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memórias em quatro acordes

Bandas

sábado, 31 de maio de 2008

Nome das bandas

Demo da Legião

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Para quem gosta de acontecimentos históricos e marcantes, aproveitamos para postar aqui uma das seis canções que integravam a primeira demo da Legião Urbana. Gravada no segundo semestre de 1983 no finado Estúdio Gravasom, no Brasília Rádio Center, Ainda é Cedo é um marco na história da banda.

Composta por Renato Russo, Iko Ouro-Preto e Marcelo Bonfá, a música ganharia as rádios FMs de todo o país em apenas dois anos, sendo regravada por Marina Lima em 1986. Naquela mesma época, o clássico já tinha registros em ensaios e era parte do repertório dos Paralamas do Sucesso, que tinham versão particular, mas também pulsante.

Nesta versão arrasadora, mostra-se o potencial da banda, que ainda não havia se aventurado antes por um estúdio profissional, vindo de apresentações esporádicas em pequenos palcos, mas já escaldada pelo show no Teatro da ABO, em abril de 1983.

Há quem considere esta versão definitiva! É o meu caso. Acho que a banda conseguiu um registro precioso, urgente e ao mesmo tempo autêntico, que se perdeu com a produção limpinha de José Emílio Rondeau durante a gravação do primeiro disco do grupo, o homônimo Legião Urbana.

Ah, tava esquecendo: esta é a gravação que fez sucesso na extinta Fluminense, a rádio maldita que foi fundamental para o rock brasileiro dos anos 80!

Divirtam-se!

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Escola de Escândalo

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Uma das grandes bandas do rock brasileiro na década de 80 jamais alcançou o sucesso merecido, numa daquelas grandes injustiças da história, ninguém sabe se por ironia ou por uma afronta do destino. A Escola de Escândalo, formada em 1983, é uma das grandes referências brasilienses no cenário do rock brasileiro, embora jamais tenha alcançado a projeção que suas bandas-irmãs tiveram - Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude.

O grupo, cuja "formação clássica" era Bernardo Müller (voz), Geraldo "Geruza" Ribeiro (baixo), Luiz "Fejão" Eduardo (guitarra) e Eduardo "Balé" Raggi (bateria), foi um dos pioneiros na cena oitentista, fazendo um crossover maravilhoso entre o heavy metal e o punk - se é que isso existe. A banda nunca gostou de rótulos e se destacava pela brilhante cozinha de Geruza e Balé, a guitarra fenomenal de Fejão e a elegância da voz de Bernardo, que também era o responsável pelas letras da banda, outro ponto forte da Escola.

Passaram pela banda outros músicos locais, como Marielle Loyola, que dividia os vocais com Bernardo e, posteriormente, integrou outras duas importantes bandas brasilienses - Arte no Escuro e Volkana. Outros dois bateristas também fizeram parte da Escola, antes de Balé assumir as baquetas: Alessandro e Manuel Antônio Fragoso, o Totoni, que hoje trabalha como ator no Rio de Janeiro.

Antes de formarem o grupo, Bernardo e Geruza integravam, ao lado de Alessandro (bateria) e Jeová Stemller (guitarra) o grupo XXX, que liderou o movimento punk brasiliense ao lado da Plebe Rude no início dos anos 80 e realizou - junto com Legião Urbana, Capital Inicial, Banda 69 e a própria Plebe - a série de shows antológicos na Temporada do Teatro da ABO, em abril de 1983.

Da banda XXX, que tinha o som mais pesado entre os seus grupos contemporâneos e que mais se aproximava ao punk feito em São Paulo e no Rio, a Escola de Escândalo herdou grande parte do seu repertório inicial, como Caneta Esferográfica e Menino Prodígio. A antiga banda de Bernardo e Geruza resolveu encerrar suas atividades quando o guitarrista Jeová saiu, devido à transferência do pai diplomata, que deixou o Brasil para assumir o posto em outro país. Antes disso, o grupo conseguiu participar de um programa na televisão local, chamado Brasília Urgente.

Bernardo ainda atuou no lendário filme Ascensão e Queda de Quatro Rudes Plebeus, dirigido por Gutje Woorthman, baterista da Plebe Rude, e que ganhou o prêmio de um Festival de Cinema Super 8 de Brasília. Neste média metragem de aproximadamente 40 minutos, o jovem Bernardo, irmão de André X, da Plebe, protagonizava o vilão que roubava os plebeus no final do filme, que tinha a narração de Renato Russo. O líder da Legião Urbana também trabalhou como "ator" fazendo o papel de empresário inescrupuloso da Plebe.

Foi durante as apresentações no Teatro da ABO que Bernardo e Geruza conheceram Fejão, um guitarrista muito conceituado em Brasília e que tocava na banda Nirvana, liderada por Tadeu, futuro vocalista do grupo Beta Pictoris. Juntos, os três - mais o baterista Alessandro - começaram a ensaiar, trabalhando numa alquimia que refletia os gostos musicais de cada, algo que parecia impossível de ser tentado. As influências eram díspares: Van Halen, Led Zeppelin, Metallica, Echo and The Bunnymen, The Beat, Police, Talking Heads e Xtc, além de bandas de ska.

Naquele mesmo ano, o grupo saiu de Brasília para fazer suas primeiras apresentações no Rio de Janeiro, que há pouco tempo já tinha descoberto o rock brasiliense, pelas mãos de Herbert Vianna e Os Paralamas do Sucesso. A Escola fez o circuito das danceterias e casas de rock - Circo Voador, Noites Cariocas, Parque Lage, Mamão com Açúcar. Ali, trataram logo de encaminhar demos para as rádios Fluminense e Estácio, mostrando Luzes, que depois veio a constar do disco Rumores, lançado pelo Sebo do Disco em 1985. A música passou a liderar a parada de sucessos da maldita Flu durante um bom tempo.

Logo depois, o grupo entrou no pau-de-sebo Rumores, uma produção independente lançado pelo Sebo do Disco, ao lado das bandas Finis Africae, Detrito Federal e Elite Sofisticada. As duas músicas apresentadas neste disco da Escola eram Complexos e Luzes, que tiveram boa execução em Brasília e em algumas rádios do Rio. O disco foi gravado no estúdio Bemol, em Belo Horizonte, e hoje é peça de colecionador. A vocalista Mariele deixa o grupo em 1986. O sucesso Luzes foi relembrado pela Plebe Rude e consta do disco ao vivo lançado pela banda em 2000.

O namoro com uma gravadora não demorou e pelo menos duas ofereceram assinatura de contrato e a gravação de um disco. A banda, prontamente, recusou. Os quatro optaram por aguardar um momento mais oportuno para gravar seu disco.

Os amigos da Plebe e da Legião, juntamente com Herbert Vianna, pressionam a EMI-Odeon para um contrato com a Escola. A gravadora se dispõe a colocar os quatro no Estúdio 1 e Philippe Seabra produz as gravações para o disco, que seria lançado no formato de Mini-LP, tal qual a Plebe e a paulistana Zero haviam feito. As cinco canções registradas você ouve aqui - no que é chamado o "disco perdido" do Escola. São as canções: Atrás das Palavras, Deuses e Demônios, O Grande Vazio, Pérolas Sem Valor e Só Mais Uma Canção. Infelizmente, o disco acabou não rolando.

Pouco tempo depois disso, a banda encerrou suas atividades, para desespero dos fãs e falta de percepção das gravadoras, que ajudaram a acabar com um dos mais dignos e inteligentes grupos de rock de todos os tempos. Bernardo Müller, que virou economista, é hoje professor da Universidade de Brasília. Geruza tornou-se produtor de estúdio, tendo trabalhado durante muitos anos no famoso Artimanha, de propriedade do guitarrista Toninho Maia. Balé fez as malas, partiu para os Estados Unidos, onde trabalhou em artes gráficas e voltou para Brasília, onde montou a banda Resistores.

Já o guitarrista Fejão abraçou novo trabalho, mais calcado no heavy metal - com elementos do pós-punk -, liderando a banda Dungeon, que chegou a lançar um disco pelo selo Rock It!. Morreu em 1995, em Brasília, sem ver a obra do Escola reconhecida no mercado fonográfico.

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Tellah - Os fundamentos do progressivo

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Qualquer roqueiro que viveu em Brasília em 1980 e fosse um pouco ligado à cena musical da cidade se surpreendeu com o lançamento naquele ano do álbum Continente Perdido, da banda de rock Tellah. O álbum – hoje uma raridade disputada a tapa em sebos de disco – jamais fez o sucesso que merecia, de acordo com parte da crítica especializada. Sequer foi notado pelo então incipiente mercado fonográfico de rock brasileiro, embora tenha sido relançado em CD já no início dos anos 90 e ganho o reconhecimento entre roqueiros da Europa e do Japão.

Um feito e tanto para uma banda que encerrou suas atividades justamente quando acabara de lançar o disco em 1980. Três meses depois de Continente Perdido chegar às lojas da cidade e ocupar espaço nas rádios locais, o grupo resolveu pendurar os instrumentos. A verdade é que a própria banda não tinha maiores pretensões quando lançou o LP. Isso pode ser percebido pela prensagem do disco: precárias 1.000 cópias. A baixa tiragem, considerada irrisória hoje mesmo para uma banda de garagem, foi o bastante para manter vivo o mito em torno da banda.

O lendário grupo surgiu na cidade em 1974 e, ironicamente, jamais teve a chance de experimentar o gosto do sucesso quando o rock de Brasília ganhou fama no eixo Rio-São Paulo, em meados da década de 80. É bem verdade que o estilo diferia muito do que estava sendo feito na mesma época pela Turma da Colina, que optara por uma postura mais punk e rocks mais nervosos. Grupos como Aborto Elétrico, Blitx 64 e Metralhaz – antecessores da Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude – estavam começando a detonar suas guitarras toscas e letras de forte temática, que levariam seus integrantes ao auge do sucesso cinco anos depois, mas estavam anos-luz de distância dos músicos do Tellah.

Herdeira da vertente mais podicrê do rock brasileiro nos anos 70 – quando estavam no auge do "sucesso" (?!) as viajandonas O Terço, Vímana, Som Imaginário e Os Mutantes na fase pós-Arnaldo/Rita e tendo Sérgio Dias como band leader – a banda Tellah tinha grandes instrumentistas – Dênis Torre (bateria), Cláudio Felício (guitarra) e Marcone Barros (baixo) – e muitos admiradores confessos, como Renato Russo. "Eu pentelhava os caras, após suas apresentações", recordou o líder da Legião Urbana, quando já estava sentado sobre a própria fama e mais milhões de discos vendidos.

"Quando a gente se apresentava, o pessoal que depois foi da Legião Urbana, Plebe Rude e Capital Inicial era todo garoto", recordou o próprio Dênis Torre, na última entrevista concedida em 1992. "Acho que foi a primeira vez que vi um show de rock", relembra Philippe Seabra, guitarrista da Plebe Rude. "Tinha até o disco, que tinha uma entrada bem progressiva: tchan-tchanananan-tum- tum-dum-dum".

No show de lançamento do disco Continente Perdido, no final de 1980, em frente ao Cine Karim e à lanchonete Food’s – o mesmo point utilizado pela Blitx, Metralhaz e Aborto para propagar seus acordes nervosos na época – a moçada compareceu em massa, inclusive alguns personagens que viriam a integrar a nata da nova música brasileira pouco tempo depois. "Quem sabe não tenhamos motivado alguns deles?", declarou Dênis, anos depois.

A primeira formação do Tellah, em 1974, reunia Cláudio Felício, José Veríssimo (baixo) e Felipe Guedes (bateria), apontando o caminho que seria trilhado no primeiro e único disco da banda. Foi com essa formação que o Tellah chegou a montar uma peça de teatro, em 1977, chamada "O Cavalo de Guerra", em que também fizeram a trilha sonora. O trabalho ainda não era marcadamente progressivo, mas uma mistura de hard rock ao estilo do Deep Purple. Somente com a entrada de Marcone Barros, já em 1978, a banda evolui para o estilo que lhe renderia fama, com influências claras de grupos ingleses como Genesis e Yes, e o canadense Rush.

Em torno de 1979, o Tellah saiu em excursão pelo país, tocando com diversas bandas famosas no circuito roqueiro daqueles tempos. Foi nessa excursão que os três músicos puderam exibir para o resto do país o seu repertório, numa excursão em que compartilhavam do mesmo palco que bandas como O Bixo da Seda, O Terço, Mutantes, Rita Lee e Joelho de Porco. Nos dois anos seguintes, o Tellah se apresentaria consecutivamente no Festival Interno do Colégio Objetivo (Fico). Logo depois, trabalhariam nas bases daquele que seria o primeiro e derradeiro disco da banda.

Continente Perdido foi gravado entre abril e agosto de 1980, nos estúdios Cruzeiro do Sul, de oito canais, em São Paulo. A maior parte das músicas registradas no primeiro álbum era de autoria de Felício, Dênis e Marcone, embora as que chegaram a ser executadas nas rádios locais fossem canções de alguns amigos famosos: as baladas Tributo ao Sorriso, de Sérgio Hinds (Terço), e É melhor voar, de Jorge Amiden e Zé Rodrix (Sá, Guarabyra & Rodrix e, depois, Joelho de Porco).

Em 1984, o grupo se reuniu para uma única apresentação, realizada a convite de um shopping de Brasília, onde executaram todo o repertório do disco e incluíram algumas surpresas, como Caçador de Mim, de Sérgio Magrão, do grupo mineiro 14 Bis; e Visitante, de Jorge Amiden. As duas canções foram relançadas em CD.

Na época em que a banda encerrou suas atividades, nenhum dos três poderia imaginar que o álbum chegaria a ter vida própria ao longo da década de 90, sendo comercializado no mercado internacional por US$ 100 – UAUUU!!!

O responsável pelo relançamento em CD daquela que é hoje considerada uma obra-prima do progressivo brasileiro, e não deixa nada a deseja a de muitas bandas internacionais famosas, foi o empresário Márcio de Melo. Dono de uma loja especializada em rock progressivo em São Paulo, a Progressive Rock Worldwide, Melo teve acesso ao original em vinil quando fazia intercâmbio de outras raridades do gênero com aficcionados.

Entusiasmado com a (re)descoberta do disco, ainda em 1992 o empresário – também produtor – tentou motivar Dênis, Marco e Felício a retomar a banda e a lenda em torno da banda, sugerindo inclusive uma agenda de shows no exterior. A boa vontade, entretanto, esbarrou nos próprios integrantes. "Não há a menor possibilidade disso acontecer", descartou Dênis, que ainda trabalha com música, mas fora das luzes dos palcos.

Ele hoje é empresário em Brasília, trabalhando com a montagem de palco e fornecimento de equipamento profissional para a realização de shows. Foi sua empresa – a Intrumental Produções Musicais – que montou, por exemplo, o som para o histórico show da Legião Urbana no Estádio Mané Garrincha, na fatídica noite de 11 de julho de 1988. O sócio de Dênis na empresa é o baixista Marcone, que também largou definitivamente o instrumento.

Já o guitarrista Cláudio Felício, que até o início dos anos 90 ainda mantinha outra banda na ativa, a Beta Pictoris, também leva hoje uma vida longe dos palcos. Ele é fazendeiro em Formosa, município de Goiás distante cerca de 100 quilômetros de Brasília, mas volta e meia apresenta-se ao lado de amigos músicos da cidade, dando canjas na noite apenas por prazer.

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Paralamas e o rock de Brasília

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Nos anos 80, um trio carioca mudou os rumos da cena musical brasileira. A receita: polaróides urbanas, pop com pitadas de reggae e ska, uma cozinha poderosa e um bandleader antenado. Pois é. Os Paralamas do Sucesso têm aquele algo mágico e carismático. São fundamentais na história da música brasileira. Mas, claro, também do rock brasiliense.

Herbert Vianna é o midas que acreditou, em primeiro plano, na cena musical de Brasília. E contribuiu para o boom do rock candango. Sem ele, dificilmente o Brasil teria conhecimento das bandas da cidade na década de 80 que elevaram a cidade à condição de Capital do Rock. Sem ele, ninguém saberia de quem eram clássicos como Veraneio Vascaína, Ainda é Cedo e Química.
As pérolas de Renato Russo foram cantadas pioneiramente por Herbert Vianna ainda em 1982, quando nem ele nem Russo sonhavam em construir a história do pop nacional.

Quando deixou Brasília, por volta de 1977, nem sonhava que dentro de cinco anos estaria pilotando um dos mais sólidos grupos de rock brasileiro. Os Paralamas nasceram em 1981, no Rio de Janeiro, de uma vontade louca de Herbert Vianna e Bi Ribeiro fazerem um som como alguns amigos de Brasília já estavam aprontando.

Ambos eram muito próximos havia anos. Bi, filho de diplomata, e Herbert, de militar, eram produtos genuínos da Brasília dos anos 70. Andavam juntos pelas superquadras da Asa Sul como todo moleque crescido entre os pilotis dos blocos brasilienses. Aquela mistura curiosa de tédio e tesão, comuns a uma geração inteira que não tinha muito o que fazer na cidade e que rendeu alguns clássicos do rock brasileiro.

Nessa época, alguns amigos também circulavam na turma – Dinho Ouro Preto e Dado Villa Lobos. “O Renato Russo a gente conhecia meio de vista, um amigo em comum falava sobre ele, que era um cara muito estranho, que não saía de casa”, disse Herbert ao jornalista Antonio Carlos Miguel, há exatamente há 18 anos.

Foi Herbert quem mostrou a Renato a primeira guitarra elétrica. “Fui lá na casa dele, mostrar uma Fender que eu tinha ganho do meu pai”, comentou. Uma guitarra preta. Herbert tinha 15 anos. O pai, Hermano, havia trazido a Fender de uma viagem aos Estados Unidos. Para quem não sabe, nesta época, a paixão pela guitarra só tinha paralelo ao amor pelo skate. Herbert foi campeão de free style.

A saída de Brasília mudou radicalmente a vida de Herbert. Acostumado do paradoxal provincianismo da cidade, o paralama-mor chegou ao Rio em 1977 e ralou muito para se acostumar à vida na velha capital. “Estava começando a tocar guitarra, ficava em casa o dia inteiro”, conta. “Em 1978, o Bi veio e aí começou realmente a tocar”. Segundo o baixista, o som não tinha nada de punk. “Tocávamos Hendrix, Clapton, Santana... Tudo sem bateria. Na casa da minha avó. Só baixo e guitarra e um amplificador”, rememora Bi.

A entrada de João Barone ocorreu em 1982, substituindo Vital – o famoso personagem da clássica Vital e Sua Moto. A banda se reunia muito na casa da avó de Bi (Vovó Ondina) para ensaios cada vez mais elétricos e interessantes.

Nessa época algumas das boas canções do grupo começaram a ganhar forma. É o caso de Vital, Patrulha Noturna e Encruzilhada, ainda chamada Encruzilhada Agroindustrial. E outras obscuras que se perderam, sem que ganhassem um registro oficial, como Solidariedade, Não!, Verão, Rodei de Novo e Mandinga de Amor.

A paixão pela guitarra, além do esmero e do esforço com que Herbert se entregava ao instrumento, sempre lhe rendeu elogios. “Ele tira qualquer música na guitarra. Até os solos mais complicados de Jimi Hendrix”, elogiou Renato Russo. “Perto dele, a gente (da Legião) não sabe tocar nada”, confessou.

Em 1982, a banda entregava uma primeira fita demo ao fotógrafo e programador de rádio Maurício Valladares. Vital e Sua Moto subiu direto para o top 10 da Rádio Fluminense, cuja existência na década de 80 foi fundamental para a consolidação do rock brasileiro. A banda tornou-se conhecida de todos no Rio. A música, que hoje soa até ingênua, foi a mais tocada pela Flu no verão de 1983.

Enquanto isso, na sala de Justiça...

Ou melhor, na capital, a moçada já estava mandando ver. A Plebe Rude era a banda mais importante da cena local, depois do desaparecimento do Aborto Elétrico. A Legião Urbana ainda estava montando seu território, junto com o Capital Inicial. O triunvirato do rock brasiliense se antenou para o que veio do Rio.

Em maio de 1983, os Paralamas gravam o single com Vital e Patrulha Noturna. Os amigos de Brasília não acreditavam. “Pô, se eles podem porque nós não podemos?”, questionava-se, incrédulo, Dinho Ouro Preto. “Se nós, que somos uns merdas gravamos...”, emendou Bi, entre risos, durante a gravação de um documentário produzido pela Conspiração Filmes, filmado, entre outras locações, na velha Brasília.

Herbert, Bi e Barone já tinham incorporado ao repertório dos Paralamas algumas canções de Russo das quais gostavam muito: Ainda é Cedo, Química e Veraneio Vascaína. O guitarrista fazia questão de falar sempre da cena brasiliense, chamando a atenção de jornalistas do eixo Rio-São Paulo para o que rolava na cidade.

Em junho de 1983, Hermano, irmão de Herbert, escreve uma reportagem sobre o rock brasiliense na extinta revista Mixtura Moderna, editada por Ana Maria Bahiana e José Emílio Rondeau, primeiro produtor da Legião. “Até a época da gente vir para o Rio, as bandas de Brasília eram imitações do rock brasileiro dos anos 70, do final do Terço, dos Mutantes... Uma coisa sem tesão. Com o pessoal ligado aos punks a cena passou a ser superestimulante. A gente começou a tocar muito em função disso também”, disse Herbert.

Em uma conversa comigo, durante as gravações do último disco da Plebe Rude - Enquanto a Trégua Não Vem -, o guitarrista dos Paralamas recordou-se de algumas das bandas que fizeram os anos 70 candangos menos irritantes, ainda mais em função dos ditadores de plantão. “Tinha muita banda legal, mas a maioria era aquela coisa viajandona”, comentou. “Tinha aqueles shows na Escola Parque sempre lotados”.

Ainda em 1983, no segundo semestre, os Paralamas tocam no Rockway 2 - um festival organizado pela produtora brasiliense Artway no Ginásio de Esportes. Nunca tinham vindo à cidade para tocar, mesmo depois que haviam gravado o single. O show foi bem recebido pelo público, mas de maneira curiosa. Como o festival era por demais eclético, ninguém sabia bem o que aqueles três estavam fazendo. O disco ainda não havia saído. É verdade que boa parte do público estava muito mais interessado em ver o Roupa Nova e a Cor do Som. Também haviam alguns metaleiros que foram curtir Robertinho do Recife. Detalhe: uma estreante Cássia Eller também se apresentou nesse festival, acompanhando como vocalista o grupo Malas & Bagagens.

Apesar da aparente indulgência do público, Herbert, Bi & Barone, não estavam nem aí. “Porra, viemos tocar em Brasília”, disse Herbert, ainda no Hotel Carlton, no centro de Brasília. No palco, entre fios e cabos, Dado Villa Lobos circulava como roadie. Durante a tarde do dia do show, num sábado de setembro, Bi e João foram para a casa de Renato Russo, saber o que o líder da Legião estava aprontando. São recebidos, junto com Fê Lemos e a namorada, Pedro Ribeiro - irmão de Bi, hoje produtor dos Paralamas - além de alguns outros poucos amigos.

Renato vibrou com os relatos de Bi sobre as gravações do primeiro disco. “Muito bom... Muito bom...”, repetia o vocalista da Legião. No disco, há uma parceria de Renato com Herbert e Barone: a singela balada O que eu não disse, que conta com a guitarra de Lulu Santos. E outro registro de um clássico do Aborto Elétrico: Química. Bi: “Ficou muito legal, Renato. Você vai gostar”. Renato vibrava, em meio aos discos distribuídos no quarto.

Alguns meses antes, Herbert tinha vindo a Brasília e chegou a assistir a um dos ensaios da Plebe, que dividia uma sala no Brasília Rádio Center junto com o Capital, o XXX e a Legião. Philippe Seabra, vocalista e guitarrista da Plebe, recorda-se de um pequeno incidente, que quase lhe rende problemas com o futuro padrinho e produtor. “O cara chegou com um bermudão, de óculos... Ficou no canto da sala, tirando uns solos de Eric Clapton. ‘Que porra é essa?’, eu pensei. A gente nem chegou a se falar, eu acho”, relembra. “Na semana seguinte, eu fui ligar o meu pedal flanger, modelo MXR, que ligava numa tomada e era 110 volts, só que aqui em Brasília a voltagem é 220 volts. E o pedal não funcionou. Eu pensei: ‘Pô, alguém queimou o meu pedal. Merda. Tem três pessoas que usaram a sala de ensaio’. Perguntei: ‘Quem foi?’ O Ico (Ouro Preto, ex-guitarrista das bandas Aborto Elétrico e Legião Urbana)’ falou que tinha sido o Herbert. Eu fiquei puto”.

Segundo Philippe, a história lhe trouxe problemas alguns meses depois. “Quando a Plebe foi ao Rio para tocar pela primeira vez, eu já tinha dito ‘fala praquele cara que ele queimou meu pedal’. Descemos para fazer o show com Plebe, Legião e Paralamas. Show antológico no Circo Voador. Quando chegamos lá no Circo para fazer a passagem de som, o Herbert, que é um cara meio largo, chegou para mim: ‘Que papo é esse de dizer por aí que eu queimei o seu pedal? Que papo é esse?’ Eu falei: ‘Não, não. Foi o Ico, foi o Ico’ (risos). E o Herbert: ‘Tá bem, tá bem...’ A gente passou o som, tocamos A Minha Renda. Na famosa passagem ("Já sei o que fazer para ganhar muita grana, vou mudar meu nome para Herbert Vianna"), o Herbert abriu um sorrisão e viu que o pessoal de Brasília tinha caráter... Ficamos amigos. Depois, ele acabou sendo nosso padrinho na EMI e, bem, o resto é história”.

Em janeiro de 1984, os Paralamas subiaram no palco do Rock in Rio, o primeiro festival de porte a acontecer no Brasil. Estrelas internacionais, como Queen, Nina Hagen e outros, chegaram ao país para tocar a uma platéia sedenta. Os Paralamas foram ovacionados. Muitos ensaios renderam ao trio a segurança necessária para tocar para uma platéia repleta de milhares de roqueiros enlouquecidos. O trio não só deu conta do recado, como encantou o Brasil. O segundo disco – O Passo do Lui - já havia saído. Óculos, o primeiro grande hit do grupo, estava estouradaça. “Mais do que a letra, a música era a época”, relatou Herbert, em 1991. Dali para a frente, o céu – e o mercado latino – eram o limite. “O Rock in Rio Foi a nossa consagração”, comentou Herbert, em entrevista concedida em 1994.

Em 1986, enquanto o país assistia indignado à degradação que havia chegado ao país com o mal-fadado Plano Cruzado, os Paralamas lançam Selvagem?, disco que tinha na capa o velho chapa Pedro Ribeiro e que trazia uma espécie de radiografia sócio-política do Brasil. O governo Sarney patinava, o Cruzado fazia água e ninguém sabia para onde a nação seguia. Herbert parecia seguro, ao cantar: "Alagados, Trenchtown/ Favela da Maré/ A esperança não vem..." O LP vendeu de 528 mil cópias. "Era o nosso recado", disse Herbert.

O resto é história.

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