radicaos
memórias em quatro acordes

Detrito Federal

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Surgido em 1984, o Detrito Federal fazia, no início da carreira, o chamado punk clássico, na linha dos Sex Pistols, com guitarras cruas e bateria em quatro por quatro. A primeira formação da banda incluía Alexandre “Podrão” Veiga (vocal) ex-Anti-Tédio e ex-Subdivisão; João Bosco (guitarra) ex-Apocalixo; Mila Menezes (baixo) depois Volkana; e Paulo César Cascão (bateria) ex-Ratos de Brasília e ex-Arroto Provisório. Nesta fase inicial, as características principais do grupo eram a voz vomitada de Podrão aliado e as guitarras sujas.

O grupo participou do primeiro disco independente feito em Brasília na década de 80: a coletânea Rumores, lançada pelo Sebo do Disco, ao lado dos grupos Escola de Escândalo, Finis Africae e Elite Sofisticada. Dois punk-rocks estão registrados no disco: Desempregado e Fim de Semana. Lançado em 1985, o disco foi bem recebido por parte do público e chegou a circular no eixo Rio-São Paulo, recebendo menções honrosas em revistas especializadas.

Ainda em 1985, Mila deixa a banda junto com Bosco, sendo substituídos por Will Pontes e Paulinho. O grupo consegue maior projeção nacional quando a Rede Globo os convida a participar do extinto programa Mixto Quente, em janeiro de 1986, transmitido nos finais de semana para todo o país direto, das praias cariocas.

No início de 1986, um racha na banda leva Podrão a se desligar do grupo, passando a se dedicar ao seu novo projeto musical - BsB-H -, deixando a liderança para Cascão. O ex-vocalista acusa os antigos companheiros de se venderem para o sistema e trair a ideologia punk. Decidido a refazer o grupo, o baterista decide assumir os vocais e convoca Luciano Dobal para pegar nas baquetas. Paulinho também deixa a banda, assumindo o baixo Milton Medeiros.

Nessa época, o Detrito abre mão das posturas mais radicais e deixa de lado a atitude e o visual punks. Em declarações à imprensa da época, Cascão declara que o grupo está se abrindo para "um número maior de pessoas". Os quatro afirmam que têm gosto eclético, citando samba, reggae, bossa nova, rock e funk entre as novas influências. Os artistas preferidos são Sex Pistols, Bauhaus, Noel Rosa, Moreira da Silva e Paulinho da Viola. "Só não gostamos de um tipo de música: a ruim", afirma Cascão.

As letras, contudo, continuam tocando na questão social, falando de injustiça, política e repressão. Cascão declara que a banda estava ajudando a resgatar a verdadeira rebeldia no rock nacional, que até então se resumia "a subir a Rua Augusta a 120 por hora e fumar onde era proibido fumar". "O rock de Brasília é o mais politizado e o mais vinculado à realidade do país", declara em entrevista à Folha de S.Paulo.

No início de 1987, a banda muda mais uma vez de formação, com Cascão e Milton Medeiros continuando na ativa. Entram Si Young e Débora Darwich e Mauro Manzolli. Logo depois, a banda fecha contrato com a Polygram e grava o disco Vítimas do Milagre, produzido por Charles Gavin, baterista dos Titãs.

O álbum conta com a participação de convidados ilustres: a Plebe Rude faz côro na faixa Tá com nada – música de André X e antiga canção do repertório plebeu –, Marielle Loyola (ex-Escola de Escândalo e então no Arte no Escuro) e Jander Bilaphra (Plebe Rude) cantam em Vítimas do Milagre e o próprio Gavin toca bateria em algumas outras faixas.

O disco é bem recebido pelo público, embora seja visto como "irregular" pela crítica especializada. A faixa que puxa o disco é Se o tempo voltasse, mas a melhor é realmente Adolescência, letra do poeta curitibano Paulo Leminski, musicada por Cascão.

O álbum ganha uma capa inusitada, que brinca com um dos símbolos do poder republicano: um garoto sentado sobre a cúpula da Câmara dos Deputados, lendo um jornal, como se estivesse em uma privada. A banda chegaria ao auge de sua carreira nessa época.

Pouco tempo depois, o grupo seria desativado por Cascão, que o retomaria em meados de 1996 para a apresentação em shows por Brasília. O Detrito participaria em 1997 do disco Cult 22, coletânea lançada pelo selo independente brasiliense RVC para o aniversário do programa homônimo produzido por Marcos Pinheiro e Victor Ribeiro da Rádio Cultura de Brasília. No ano seguinte, a banda se apresentaria no Festival Abril Pro Rock, realizado em Recife.

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